viernes, 3 de octubre de 2014

"(...)
Diz a lenda que um dia, já em idade
bastante avançada, Buda passava por uma floresta. Era um dia quente de verão e ele estava
com muita sede. Então ele disse a Ananda, seu discípulo-mor: “Você precisa voltar, passamos por um pequeno riacho cinco ou seis quilômetros
atrás. Vá, leve a minha vasilha de esmolas e me traga um pouco de água. Estou com sede e
cansado.”
Ananda retornou, mas, ao chegar ao local, percebeu que alguns carros de bois haviam
atravessado o riacho, revolvendo o leito de folhas secas e deixando a água enlameada. Já
não era mais possível beber daquela água, ela estava muito suja. Ele voltou com as mãos
vazias dizendo: “Você precisa esperar um pouco. Eu vou seguir adiante, pois ouvi falar de
um grande rio a apenas três ou quatro quilômetros daqui. Eu trarei água de lá.”
Mas Buda insiste dizendo: “Volte e traga água do mesmo riacho.”
Ananda não conseguia entender tanta insistência, mas, se o mestre estava ordenando,
o discípulo obedeceria. Assim, ele retornou ao riacho, mesmo sabendo do absurdo que seria
caminhar cinco ou seis quilômetros, sabendo que a água não era boa para ser bebida.
Ao retornar, Buda disse: “E não volte se a água ainda estiver suja. Se estiver suja,
simplesmente sente à margem do riacho e permaneça em silêncio. Não faça nada, não entre
no riacho. Apenas sente à margem em silêncio e observe. Cedo ou tarde a água estará
límpida novamente, você poderá encher a vasilha e voltar.”
Ananda retornou ao local. Buda estava certo: a água estava quase límpida, as folhas
tinham sido levadas, a sujeira tinha assentado. Mas ainda não estava absolutamente
límpida. Assim, ele se sentou à margem e apenas observou o rio fluir. Lentamente, ele se
tornou transparente como um cristal e Ananda retornou dançando. Ele havia entendido por
que Buda fora tão insistente, pois na sua insistência Buda havia deixado uma mensagem
que ele compreendera. Ananda entregou a água a Buda e o agradeceu, tocando seus pés.
Buda então disse: “O que você está fazendo? Sou eu quem deveria agradecê-lo por ter
me trazido água.”
Ananda retorquiu: “Agora eu entendo. No início, eu estava com raiva. Eu não
demonstrei, mas estava com raiva porque achava que era absurdo voltar. Agora, entendi a
mensagem. Sentado à margem do riacho, me dei conta de que a mesma coisa acontece com
minha mente. Se eu mergulhar no rio, eu o sujarei novamente. Se eu mergulhar na mente,
apenas criarei mais barulho, mais problemas serão desenterrados e irão começar a aparecer.
Aprendi a técnica simplesmente ao sentar à margem.”Fique sentado à margem de sua mente, observando sua sujeira, seus problemas, suas
folhas podres, mágoas, feridas, memórias, desejos. Sente-se despreocupadamente à margem
de tudo e aguarde o momento em que tudo estará límpido novamente.
Isto acontecerá por si só porque, no momento em que se sentar à margem de sua
mente, você não estará mais transmitindo energia para ela. Essa é a verdadeira meditação.
A meditação é a arte da transcendência.
Freud falou em análise, Assagioli em síntese. Os Budas sempre falaram em
meditação e consciência.
O que há de tão especial nesse terceiro tipo de psicologia? Meditação, percepção,
observação, testemunho — isso é único. Você não precisa de um psicanalista. Você pode
fazer isto sozinho. Na verdade, você tem que fazer isto sozinho. Não é preciso nenhum
manual, pois o processo é simples quando executado: caso contrário, parece muito
complicado.
A própria palavra meditação assusta muito as pessoas, pois elas pensam que é algo
difícil e árduo. Sim, se você não meditar, fica tudo muito difícil e árduo. É como nadar. No
início, parece muito difícil, mas depois que você descobre o processo vê que é simples.
Nada pode ser mais simples do que nadar. Não é uma forma de arte, é tão espontâneo e
natural!
Tome maior consciência de sua mente. Ao fazer isso, você também tomará
consciência de que você não é a mente. E este é o início da revolução. Você começa a se
elevar mais e mais. Você deixa de estar atrelado à mente, que funciona como uma pedra
que o detém. Ela o prende dentro de um campo gravitacional. No momento em que você se
liberta da mente, quando a gravidade perde seu poder sobre você, você entra no campo de
Buda. Entrar no campo de Buda significa entrar no mundo da levitação. Você começa a
flutuar. A mente, no entanto, continua a puxá-lo para baixo.
Assim, não é uma questão de analisar ou sintetizar. É simplesmente uma questão de
tomar consciência. É por isso que no Oriente não foi desenvolvida uma psicoterapia como a
de Freud, Jung ou Adler, e outras tantas disponíveis no mercado atualmente. Nunca
desenvolvemos psicoterapias porque sabemos que elas não curam. Elas podem ajudá-lo a
aceitar suas feridas, mas não podem curá-las. A cura só acontece quando você não está mais preso à mente. Quando está desconectado da mente, sem identidade, completamente
desatrelado, a escravidão termina e a cura pode acontecer.
A verdadeira terapia é a transcendência, e não apenas a psicoterapia. Não é um
fenômeno limitado à psicologia, é muito maior do que isto. É espiritual. E pode curá-lo no
mais fundo de seu ser. "

Osho - Aprendendo a silenciar a mente.

Creio que compartilhar esse trecho do livro é muito mais importante do que contar qualquer história da minha viagem.
Espero que as fotos falem por si só. Essas aqui mostram um pouco do Peru.